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Vamos brincar com a letra A : Miguel Ouana publica livro para a primeira infância

Numa altura em que a literatura infantil moçambicana procura novas formas de entrar no imaginário da primeira infância, Miguel Ouana apresenta “Vamos brincar com a letra a”, um livro que devolve à linguagem o seu lugar de espanto primordial. O autor parte de um olhar com atenção para uma única letra e transforma-a num território de invenção, onde a aprendizagem se faz pela brincadeira.

Nesta conversa, Ouana reflecte sobre o acto de escrever para crianças, o valor pedagógico da brincadeira e a forma como ele transformou a letra “a” numa personagem viajante e companheira de descoberta.

O que o inspirou a escrever um livro infantil centrado apenas numa letra, a letra “a”?

Duas coisas inspiraram-me a escrever um livro centrado na letra A. A primeira é por ela ser a primeira letra do alfabeto grego, o que vai ao encontro do objectivo que almejo alcançar, que é a iniciação à leitura e à escrita. A segunda tem a ver com o facto de a letra A ocorrer em grande parte das palavras da Língua Portuguesa. É só uma questão de contabilizar as vezes em que a mesma aparece num determinado texto para confirmar o que digo.

Como nasceu a ideia de transformar o abecedário numa espécie de viagem ou brincadeira?

A brincar se aprende. A viajar se aprende. Foi juntando estas duas actividades que surgiu a ideia de pegar na primeira letra do alfabeto, personalizá-la e pô-la a empreender uma longa viagem, como uma forma de pôr as crianças a acompanharem-na nessa sua aventura.  Em cada paragem que o A faz cria algo ligado às crianças, o que pode fazer com elas se identifiquem com isso e se envolvam na leitura lúdica do livro.

Qual foi o maior desafio em escrever para crianças, que estão a dar os primeiros passos na leitura?

Prefiro chamar a este acto um prazer e não um desafio. Prazer porque resulta de uma primeira experiência, que deu certo. Refiro-me ao livro “Os animais falam?” As crianças adoram este livro, o que me faz crer que terão a mesma sensação quando manusearem o “Vamos brincar com a letra a”.

O livro personifica a letra ‘’a, transformando-a numa personagem que caminha e faz amigos. Como Miguel Ouana acha que poderíamos dar vida às letras?

Olhando para as crianças que estão a frequentar o primeiro ano do ensino básico. Para lhe falar a verdade, não sei se eu próprio estaria em condições de personificar as outras letras. Seria bom que se conseguisse coisa igual, mas importa referir que a arte de escrever é espontânea, mas, repito, seria bom que tal acontecesse. Pena que eu não seja repetitivo. Estou sempre a pensar em projectos diferentes e isso me faz bem e me torna mais eclético.

O livro é dedicado às crianças de Moçambique e da CPLP. Qual é a importância da língua portuguesa como ponto de união neste projecto?

Essa era a minha dedicatória inicial, mas o Editor achou-a inconveniente, por ser excludente. Concordei e passámos a dedicar o livro a todas crianças do Mundo. Entretanto, assim sendo, o livro vai divulgar a Língua Portuguesa em todos cantos do Mundo.

Que papel acredita que a literatura infantil pode desempenhar no nosso sistema de educação, olhando para o ensino primário?

A literatura infantil é extremamente importante no sistema de educação em todo planeta. Ela é a porta de entrada para todos domínios do conhecimento. Por isso, é imperioso que se incentive o gosto e o hábito de ler, a começar da pré-escola. Atenção, esta não é somente obrigação do governo, especificamente, do Ministério da Educação e Cultura. É tarefa de todos nós. Deve-se ler na escola, em casa, na comunidade. O livro faz o homem e este faz o Mundo.

Como foi a sua experiência pessoal com os livros quando era criança? Houve algum autor ou história que lhe marcou?

Não nasci no meio de livros, mas nasci onde os mais velhos liam muito e nos contavam as histórias dos livros que liam. Isso criava em nós a gula pelos livros e cedo começamos a ler banda desenhada, em revistas como Luck Luck, Tio Patinhas, Pato Donald, etc. Já aos doze, treze anos, passámos a ler livros de bolso, como os da colecção Seis Balas, Os Cinco, Os Setes. De referir que era toda literatura importada. Não tínhamos obras infantis de autores moçambicanos nem africanos. Porém, como ler é importante e o livro não tem fronteiras, desde que não aliene, desenvolvíamos desse jeito a capacidade de ler e de escrever, o que contribuia para o nosso desenvolvimento intelectual e científico.

Por fim, depois da letra “a, podemos esperar novas aventuras com outras letras do abecedário?

Não prometo, mas pode acontecer. Como disse acima, sou um autor eclético, escrevo sobre muitas coisas. Cada livro tem a sua história. Posso, sim, escrever outros livros de iniciação à leitura e à escrita.

Leia a prévia do livro em PDF 📕

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