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A Sebastião de Lucílio Manjate

Por Dércio Chiemo

O livro que me foi proposto apresentar tem como título A Legitima Dor da Dona Sebastião, o seu autor é Lucílio Manjate, chancelado pela Alcance Editores. A apresentação do livro foi proposta, primeiro, pelo amigo e escritor Dany Wambire, na Cidade da Beira, quando, pela primeira vez, o escritor Lucílio Manjate deu-nos à graça da sua visita à Universidade Licungo. Convite este que foi aceite com muito gosto, por dois motivos. Primeiro, por se tratar de um desafio ler e apresentar um escritor que me era desconhecido, ignorava a sua forma de escrita. Segundo, por se tratar de um jovem escritor premiado.

A sua capa ilustrada por uma imagem sugestiva, da autoria do artistaElias Manjate, casa com o curioso e enigmático título A Legitima Dor Da Dona Sebastião. Para qualquer leitor atento, começam aí as questões. O que será que a capa sugere? Haverá uma relação com a história? Espreita? Quem será que realmente está a espreitar? A Dor? Dona Sebastião? Por que uma dona se chamar Sebastião? Assim sugere o título, e indagamos, indagação cujas respostas esperamos encontrar no livro. Pois, a Dona Sebastião, apesar do autor a matar logo no início da trama da história, ela é a personagem principal de toda a história. Por que será que ela morre? Por ser conhecedora de todas as histórias que envolvem as outras personagens? ou existira uma outra dor diferente de todas as dores por ela contada? Será que é por culpa dessa dor que ela morre?

Quanto ao género, esta é uma obra que pode ser classificada como sendo policial, se o leitor pretender que o centro do enredo está na investigação da morte da Dona Sebastião, como também pode ser um romance histórico, pois o narrador, no livro, tem a capacidade de nos abduzir e transportar para um período histórico, concretamente, década dos ano 80, período este que marcou bastante a vida das personagem e dá a entender que também deve ter marcado uma geração moçambicana que tenha nascido ou vivido neste período. De referir que se apercebe que o cerne do debate do narrador centra-se aí.

Em síntese, posso contar que, a história desenvolve-se a partir de um debate que pretende ser actual sobre quem somos, donde viemos e como essas memórias podem moldar ou desmoldar o nosso ser ou não ser: “eis a questão”.

À volta de uma mesa velha de uma barraca do mercado Museu, na Cidade de Maputo, em um tempo actual, José, Alfredo, Amade, Manguana e Dona Sebastião vão protagonizar uma introspecção no tempo, que, além de ser a causa da morte da Dona Sebastião, torna-se uma reviravolta na vida dos envolvidos. Entre revelações à morte da Dona Sebastião, encontramos a investigação que vai envolver todos os que directa ou indirectamente, no dia da morte, frequentaram as barracas do Museu. Acrescentar que, cada história, cada personagem representa um pedaço da história vivida em Moçambique na década de 80 e que uma das histórias foi a causa da morte da Dona Sebastião.

Creio que, este é um livro que pode ser associado a “lugares de memória”, pode variar desde o objecto mais material e concreto, localizado geograficamente, até o objecto mais abstrato e intelectualmente construído. Como por exemplo as palavras “continuadores”, a “Escola 3 de Fevereiro”, a “Avenida Mártires da Machava”, entre outros nomes, objectos e lugares citados no livro.

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